quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Quando M.A.U. é bom!

Depois de um surpreendente álbum de estreia, os irreverentes e divertidos M.A.U. conquistaram, definitivamente, o seu espaço na música nacional com este novo Tales of Wonder Fur and Deception. O Combo esteve à conversa com o descontraído vocalista Luís F. de Sousa.
Combo- O nascimento dos M.A.U. aconteceu na Dinamarca, na escola de cinema que os seus elementos frequentavam, e o seu primeiro concerto (ainda neste colégio) acontece um pouco por brincadeira. Querem explicar como sucedeu?
Luís F. de Sousa- Basicamente tínhamos um estúdio de som muito bem equipado à nossa disposição a qualquer hora da noite. Ao contrário de muita gente, quando bebo perco o sono, logo nessas noites pegava na minha groovebox e ia para o estúdio fazer instrumentais dentro da área do electro. Mostrei essas músicas a alguns colegas que ficaram muito entusiasmados com o som e em jeito de brincadeira resolvemos "pintar" essas mesmas músicas com sotaques e línguas diferentes. Sendo uma escola internacional com gente de todo o mundo, foi muito fácil a concretização dessa vontade. E foi assim que surgiu a formação original dos M.A.U., com o Shir (Israel), a Pia (Alemanha), o Pablo (França), o Jonas (Dinamarca) e eu (Portugal). Em relação aos concertos, acabaram por surgir em consequência do entusiasmo dos nossos colegas pelo projecto. Passámos a ser obrigados a tocar nas festas (que se realizavam todos os sábados) da escola (EFC).
C- A princípio, a banda era composta por elementos originários de vários países. Alguma vez esta multi-etnicidade foi um problema para a composição ou para o desenvolvimento da banda?
L.F.S.- Para dizer a verdade nessa altura a banda era muito pouco "democrática", já que era eu quem compunha e fazia os arranjos de todos os temas. Logo não havia qualquer contestação no que diz respeito ao instrumental, até porque quase todos os restantes membros não tinham quaisquer noções de composição musical. Em relação às letras, normalmente criava-se uma temática e cada um escrevia as suas próprias partes. Uma vez que normalmente escreviam nas suas línguas nativas, não havia propriamente como criticar uma língua que mal se conhece.Com a nova formação (Luís F. de Sousa, Nuno Lamy, António Soares, Pablo Camp e César Gomes), as coisas mudaram completamente de figura. Passámos a ser uma banda a sério, com músicos a sério. A partir daí o input criativo multiplicou-se, o que não trouxe qualquer problema à banda, pelo contrário, abriu os horizontes dos M.A.U. enriquecendo o nosso som de forma significativa.
C- Os M.A.U. contam já com algumas mudanças de formação. O que levou a estas?
L.F.S.- A primeira razão foi meramente geográfica, uma vez que na formação original cada um era de um país diferente. A segunda razão e em consequência da primeira, foi o factor monetário. É impossível manter 5 pessoas de países diferentes em Portugal a ganhar da música que fazem. Só consegui convencer o Pablo a ficar e foi preciso apaixonar-se por uma portuguesa para isso acontecer. (risos)De qualquer forma, desde que estamos em Portugal e que fizemos os primeiros ajustes necessários na formação da banda, os elementos dos M.A.U. têm-se mantido os mesmos.
C- Uma das imagens de marca dos M.A.U. é a sua escolha por letras escritas em várias línguas, como o inglês, o francês, ou o português. Qual a razão para esta escolha?
L.F.S.- A razão prende-se com a nacionalidade de todos os elementos que já fizeram ou fazem parte da banda. Em relação ao Inglês, acontece por ser a língua mais internacional que existe e por ser aquela que melhor se enquadra no estilo de música que fazemos. Somos apologistas da globalização no sentido mais amplo da palavra e isso reflecte-se na música e nas letras que fazemos. As fronteiras hoje em dia só servem para criar Apartheids sociais e económicos.

C- Desde o primeiro álbum, Man and Unable, que os M.A.U. tem sido um caso sério de popularidade. O Spot publicitário para uma conhecida rede de telecomunicações e o fantástico vídeo da música “Prick (I am)” catapultaram-vos para o palco da vida pública. Alguma vez se sentiram ameaçados por essa tão rápida ascensão?
L.F.S.- Não me parece que sejamos um caso sério de popularidade. Talvez os Da Weasel ou os Blasted tenham esse nível de notoriedade. Somos uma banda que acredita naquilo que faz, que sabe onde quer chegar, mas que não se leva demasiado a sério. Ao escolhermos fazer o tipo de som que fazemos, sabemos à partida que seremos sempre uma banda de nichos e não uma banda de massas. Esses pequenos picos de popularidade que esporadicamente acontecem, são um bónus que muito nos agrada, mas que não nos distrai daquilo que fazemos ou daquilo que queremos vir a fazer.
C- Depois de Man and Unable os M.A.U. lançam Tales of Wonder, Fur and Deception, que conta com a participação de Macacos do Chinês e Suspiria Franklyn. Como surgiram estas participações?
L.F.S.- Surgiram pelo myspace. São artistas que conhecemos por esse site e que nos impressionaram de formas diferentes. A Suspiria, para além de ser já um ícone do panorama underground português, é sem qualquer dúvida a pessoa que melhor grita no nosso país. E acreditem que gritar é uma arte! O convite surgiu pela necessidade de ter alguém que soubesse gritar no tema "Playing Tricks".Em relação aos Macacos, é provavelmente a banda que mais admiramos no que diz respeito ao panorama musical português, logo existia desde sempre uma grande vontade da nossa parte em fazer algo com eles. Fizemos o convite para re-arranjarem, à maneira deles, um dos versos da música "Fake Booming Shit", eles gostaram da ideia e fizeram-no na perfeição.Em ambos os casos as musicas ganharam bastante, o que nos faz ter vontade de convidar muito mais gente que também admiramos a participar em álbuns futuros.
C- Os vossos vídeos, para além da inegável qualidade artística, mostram também grande imaginação, acabando por suscitar sempre grande curiosidade por parte do público. Como se processam as gravações destes? Já alguma pensaram em fazer algo mais longo que junte imagem e musica, tipo “ópera rock”?
L.F.S.- Confesso que isso nunca me passou pela cabeça (risos), mas uma vez que eu e o Pablo temos formação e trabalhamos em TV/Cinema, existe desde sempre a ambição de conseguir conciliar as duas coisas. Ideias existem, falta tempo e dinheiro.Quanto aos nossos vídeos, são todos eles idealizados e realizados por nós. Normalmente não dispomos de qualquer orçamento, o que nos obriga a apostar essencialmente no conceito e na ideia. Também não gostamos de vídeos que se esgotem ao fim de um mês de promoção, ou seja, tentamos sempre criar algo que tenha uma grande longevidade. São estes princípios que fazem dos nossos vídeos aquilo que são. Sem serem obras-primas visuais (nem se propõem a sê-lo), os nossos vídeos divertem, geram curiosidade, por vezes chocam, etc. Em resumo não deixam as pessoas indiferentes. Para além disso, são vídeos que tendem a tornar-se virais, como foi o caso do "Prick (I am)" que embora tenha sido feito em 2006, ainda hoje é reenviado por email a amigos e conhecidos, chegando inclusivamente aos mais improváveis cantos do mundo. Só por curiosidade, o coelho azul é grande na Polónia! (risos)
C- O Combo já teve o prazer de vos ver ao vivo, em Vilar de Mouros, um concerto cheio de humor e energia. Como se sentem os M.A.U.: uma banda de palco ou uma banda de estúdio?
L.F.S.- É uma pergunta difícil, até porque a opinião difere de membro para membro da banda. Se as coisas não correrem bem em estúdio e se não criarmos musicas suficientemente boas e cativantes que nos convençam a todos enquanto músicos, ao vivo não vamos ter entusiasmo suficiente para as tocar de forma convincente e consequentemente contagiar o publico. Nos M.A.U. as duas vertentes complementam-se. Julgo sermos uma banda criativa e competente em estúdio, mas que se revela e cresce ainda mais ao vivo.
C- Os M.A.U. são a vossa prioridade profissional ou apenas um hobby sério?
L.F.S.- Neste momento é um hobby muito sério, mas temos a ambição de que venha a ser uma prioridade profissional. Isto prende-se com questões de rendimento óbvias. Como já disse, é muito difícil ganhar dinheiro suficiente com a música em Portugal.Deve-se a essa ambição de profissionalização, o nosso empenho na tentativa de internacionalização da banda. Em Outubro temos agendados alguns concertos fora do país, nomeadamente na Islândia e em França (Paris), para além de estarmos neste momento (nós e a nossa editora iPlay) em negociações com editoras desses mesmos países para uma futura edição lá fora. As coisas têm estado a correr muito bem nesse sentido.
C- Durante o lançamento do Tales of Wonder, Fur and Deception os M.A.U. contaram com vários teasers promocionais, que rodavam bastante na SIC Radical. Como surgiu a ideia como se processou a parceria com este canal?
L.F.S.- Em 2006 quando lançámos o single "Prick (I am)" do nosso primeiro álbum, sentimos que a editora que tínhamos na altura não tirou partido do sucesso inesperado do vídeo da musica, ou seja, o vídeo do coelho azul sodomita...(risos) Logo pareceu-nos claro que deveríamos aproveitar a notoriedade de algo que havíamos criado (porque ainda não tinha sido devidamente aproveitado) e catapultar dessa forma a promoção do nosso novo álbum Tales of Wonder, Fur and Deception. Contudo, quisemos desconstruir de certa forma a personagem do coelho e fazê-lo pagar por todos os abusos que protagonizou no videoclip, passando o roedor, de agressor a vítima. Foi assim que surgiram os teasers promocionais do novo álbum.A parceria com a Sic Radical foi uma consequência natural da boa relação que a banda sempre teve com o canal. Sempre deram destaque aos nossos vídeos e sempre apoiaram aquilo que fazemos, da mesma forma que nós sempre fizemos questão de frisar a nossa identificação com a temática, conceito e conteúdo do canal.
C- Para quem não conhece os M.A.U., como é que vocês se apresentariam?
L.F.S.- Banda indie/alternativa, com influências de hip hop, rock e pop, assentes numa forte base electrónica, que não se cinge a uma só forma de expressão ou língua, sem que por essa razão se torne elitista ou se leve demasiado a sério.
C- Alguém, no vosso myspace, designa o vosso som como Clown Pop. Acham que anda lá perto?
L.F.S.- Quem deixou esse comentário foi a Joana Azevedo (animadora da rádio cidade e apresentadora do CC), que para além de ser amiga da banda, é parva por natureza. (risos) Estou a brincar, mas obviamente que esse comentário não tinha qualquer outro propósito que não o de brincar/gozar connosco. Aliás, eu respondi-lhe dizendo "Sim o nosso som é Clown Pop, daí só convidar palhaços/as para os nossos vídeos!". Por falar nisso, a Joana é uma das protagonistas do nosso novo vídeo da musica "No Worries in Frame", que serve também como uma espécie de episódio piloto fictício para um reality show de seu nome "Embebeda o Famoso!" (podem ver o vídeo no youtube ou em myspace.com/manandunable) Tudo isto não invalida o facto de por vezes nos comportarmos como palhaços. ;)
C- Para quando um novo álbum?
L.F.S.- Para já ainda estamos a promover este novo álbum (Tales of Wonder, Fur and Deception). Para além dos dois primeiros singles "Cum Sexy Cum" e "No Worries in Frame", ainda pretendemos lançar mais dois. De qualquer forma já começámos a trabalhar em cerca de 10 temas novos (ou embriões de temas). Certamente que 2009 contará com um novo álbum dos M.A.U. bem diferente dos dois anteriores. Estamos mesmo muito entusiasmados com as novas musicas.
C- Os M.A.U. contam já com alguns quilómetros de estrada percorridos, devem, com certeza, ter algumas histórias engraçadas ou bizarras para contar relacionadas com concertos… Não querem aqui deixar uma duas para os fãs?
L.F.S.- Há várias, mas infelizmente não podem ser publicadas. Para além disso, as mesmas razões que muitas das vezes provocaram ou fomentaram essas histórias, também afectaram de forma irreversível a minha memória. (risos)
C-Como vêm o panorama musical português da actualidade?
L.F.S.- Cada vez mais alargado, variado, criativo e competente. Agora só falta deixarmos de ser mesquinhos uns com os outros e dar espaço uns aos outros para que possamos crescer. Isto passa não só pelos músicos, mas também por quem promove, noticia, critica, edita, etc, o que esses mesmos músicos criam.
C- Que conselhos dariam a um jovem músico em inicio de carreira?
L.F.S.- Acredita! Acredita que isto pode vir a dar merda, mas que às vezes corre bem. Não sou muito bom a dar conselhos. (risos)
C- Para finalizar a entrevista, gostariam de deixar alguma mensagem para os fãs?
L.F.S.- Pai...mãe...obrigado por terem comprado cerca de 70 discos dos M.A.U. para oferecer a amigos e conhecidos!

Os M.A.U. são: Luís F. De Sousa- Voz, programações, sintetizadores e acordeão;
Pablo Camp- Voz;
António Soares- Guitarra;
Nuno Lamy- Teclas.

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