domingo, 17 de fevereiro de 2008

The Cynicals

A energia do cinismo…

Nascidos na eterna cidade dos estudantes os The Cynicals aparecem como banda salvadora do panorama rock aeminiense. Munidos com melodias contagiantes, uma actitude provocatória e uma língua bem afiada, os The Cynicals prometem não deixar ninguém indiferente.
O Combo esteve à conversa com Jõao Macias, o carismático e polémico vocalista da banda.




Combo- Os The Cynicals nascem em Coimbra, juntando elementos de várias bandas com estilos musicais diferentes (João Macias: ex [f.e.v.e.r.] ex- Fireball, José Rebola: ex-The Speeding Bullets, Du’Arte: ex-The Speeding Bullets, João Baptista ex-Belle Chase Hotel e ex-Danae, actualmente na banda de J.P. Simões). Como se definem, musicalmente, os The Cynicals?

João Macias- Os the Cynicals apostam em melodias de óbvia abordagem, onde as letras e toda a postura inerente ao conceito implícito, caracterizam-se por uma certa insatisfação existencial, amargura e inadaptação. De certo modo somos uma banda punk. Mais punk do que muitas bandas que se dizem hoje punk e no fundo não o são. Nada têm a ver com punk. São uma mentira. Nós preferimos colocar o dedo na ferida mostrando um espelho às pessoas e a nós próprios. Pode-se dizer que há uma reflexão irónica, uma catarse.

C.- Aliado a som forte e apelativo, as letras dos The Cynicals são mais uma das armas da banda. Estas são bastante satíricas, críticas e cínicas, visando o mundo em seu redor e, especialmente, o estilo de vida britânico. Foi esta a razão que levou a escolha do nome da banda?

J.M.- Sim também, mas não nos devemos esquecer da corrente filosófica da antiga Grécia. Os cínicos tinham como meta a felicidade e plenitude através do desprendimento do materialismo. Isso torna-se interessante quando vês que hoje as pessoas têm mais do que precisam e nunca o que precisam realmente.

C.- Na vossa biografia, a certo ponto, escrevem: “The Cynicals juntaram-se para preencher a lacuna do rock britânico ao invés do americanizado das vizinhanças”. Quais são, então, as vossas influencias musicais? Querem explicar esta frase?

J.M.- Nos anos 90 ocorreu o boom do rock’n’roll em Coimbra com os Tédio Boys. Depois destes terem terminado carreira surgiram vários projectos bastante válidos saídos dos membros dessa banda. A questão que se impõe agora é: valerá a pena continuar a bater na mesma tecla dos caminhos já trilhados (e bem) por outras pessoas anteriormente? O que nos interessa realmente? O seguidismo carneirista dos grupinhos ou o murro na mesa que na altura os Tédio deram contra um certo conformismo em Coimbra? Esse é o ponto práctico, para além de que o teórico e inspirativo reside no facto de ouvirmos muito rock britânico – não esquecer que foram os ingleses que reinventaram o rock’n’roll nos anos 60 e o devolveram à América seguidamente – nós não temos necessidades dessa natureza, pela parte que me toca possuo até uma natureza bastante anti-social. Se me virem num bar paguem-me um copo e falem-me de música e de cinema, mas não me venham com frases feitas...

C.- Em palco os The Cynicals assumem uma postura muito intensa e, por vezes, polémica. Lembro-me, por exemplo, da Queima das Fitas de Coimbra de 2007, onde um símbolo do P.N.R. serviu de “papel higiénico”, ou das tiradas ao processo de Bolonha no palco da Latada. Como tem reagido o público até agora aos vossos concertos?

J.M.- Penso que o público está farto de bandas de macacos amestrados e farto de governos e de extremistas que gozam com a sua inteligência constantemente. Como escrevia o Carlos de Oliveira na sua obra Uma abelha na chuva – “Os cocheiros estão fartos caramba!” E os cocheiros que são os espectadores, cocheiros da sua própria vontade ainda que não o julguem, estão fartos e gostam de serem espicaçados, porque as nossas boas maneiras, moralidades e castrações afins continuam a fazer de nós um povo com vergonha da sua identidade e, quando isso sucede as pessoas querem ácido porque estão fartas de ouvirem o princípio da frase e saberem como esta vai terminar.
Eu não tenho vergonha, eu não devo nada a ninguém, eu não me calo e no dia em que temer já me terão derrotado.

C.- No concerto da Latada em Coimbra falaram na edição de um EP para próximo, já sabem qual vai ser a data do lançamento?

J.M.- Na verdade não vai ser um EP mas sim dois. O “...so much ado about nothing” é o nosso EP que queríamos gravar há já algum tempo. Estamos a fazer esse trabalho aqui em Coimbra no Loudstudio, um espaço relativamente novo, mas com muito boas condições e com um staff bem experimentado. A produção está a cargo do Toni Lourenço e do Gil. Será um EP de 6 temas numa vertente mais cabaret-punk.
Esperamos lançá-lo em Fevereiro ou Março, mas ainda não temos datas definitivas. Possivelmente faremos três apresentações, uma no Porto, outra em Coimbra e outra no Santiago Alquimista em Lisboa. Isso está ainda em fase de discussão, mas para mais informações convido-vos a visitarem o nosso myspace: www.myspace.com/somuchadoaboutnothing
O outro disco é o prémio do Festival de Corroios de 2007, um dos concursos que vencemos. Acabámos de gravar há poucos dias e falta agora masterizar e produzir. Isso ficará a meu cargo e do Carlos Cabral do Estúdio Boom em Corroios. É um registo marcadamente mais rock’n’roll e tem lá pelo meio uma love song para desanuviar, a “Angel”. O disco chamar-se-á provisoriamente “I didn’t kill rock’n’roll”. Será este registo lançado a 8 de março quando formos fechar, como banda convidada a última eliminatória. No ano passado estiveram bandas como Easyway, Balla ou Bunnyranch. Este ano vão estar nomes como the Cynicals, Slimmy ou The Poppers. Vai ser bom, vamo-nos divertir, aquilo é malta muito boa onda.

C.- Os vossos concertos são conhecidos por serem bastante intensos, temem não conseguir passar essa energia para o álbum?

J.M.- De modo nenhum e se isto parecer arrogante paciência. Os the Cynicals são uma banda mais “perigosa” ao vivo mas quando estão a descontrair são gente que em casa ouve Django Reinhardt, Tom Waits, Ute Lemper ou Astor Piazolla. Quer isto dizer que palco é palco, é punk, é festa, é como se não houvesse amanhã e curtimos sentir o público assim também. Partam tudo! Agora em estúdio é uma coisa mais refinada, mais intimista, as nossas canções valem por elas próprias e a minha voz soa mais quente. Não estamos com medo nenhum, estamos é ansiosos por ver o resultado final cá fora.

C.- Os The Cynicals, não obstante de serem um projecto formado apenas em 2004, já possuem um currículo invejável. Tendo já vencido vários concursos de bandas e tocando um pouco por todo o país, têm algum concerto que vos tenha marcado, quer pela positiva, quer pela negativa?

J.M.- Há vários concertos que marcam, sejam pela positiva ou pela negativa. Lembro-me de na Queima de Aveiro a abrir para os Xutos que foi muito bom. Outro no Santiago Alquimista em Lisboa que também ficou na memória. Um aqui há semanas em Braga que até estava lá o Adolfo Luxúria Canibal.. foi lisonjeador... (risos ). Isso foi um dia depois de tocar no Porto e de ir para o Plano b completamente bêbedo às 4 da manhã chatear o Tiago Bettencourt... às vezes sou muito mau (risos), mas ok, se me pagarem um copo eu acalmo e até não sou mau tipo.. depende das luas...

C.- Apesar de ser uma banda ainda jovem, já contam com alguma mudanças de formação, saída de Joana Rebola (coros e pandeireta) e de Pita (baixo), substituído por Mr. Rod que por sua vez foi, de momento, substituído por João Baptista. O que levou a tais mudanças?

J.M.- Bem, a Joana era irmã do Rebola e precisava de trabalhar muito e ela não estava para isso, mas continuamos a ver-nos ela vem sempre aos nossos concertos e trás sempre miúdas com ela o que é francamente positivo. O Pita apenas decidiu que quer fazer outras coisas musicalmente e nós desejamos-lhe toda a sorte do mundo. Quanto ao Rod, bom digamos que o rapaz sofreu graves problemas de adaptação ao espírito da banda e eu convidei-o a sair. Não há ressentimentos. Agora temos o João Baptista que é um músico experimentado e parece compreender muito bem os conceitos inerentes a este projecto. De certo modo sinto que somos um pouco filhos dos Belle Chase Hotel, apesar de não sermos colagem nenhuma a eles... mas há um elo de ligação menos óbvio sem dúvida. Ninguém mais acertado que o João Baptista nesse sentido então.

C.- Como definem o panorama musical nacional da actualidade e o que trazem os The Cynicals de novo a este?

J.M.- Pobre. Sem apostas, sem arrojo salvo raras excepções. Sem sítios para tocar. Sem uma política estatal decente para a cultura e o espectáculo. Se vais à Escandinávia, Estados Unidos, Inglaterra, Suiça ou Alemanha verás que o músico ou o artista é alguém respeitado pela sua profissão, só nestes países de tradição fascista do sul da Europa é que se considera o artista como um lunático, como alguém que faz algo indigno... claro ... ele pensa e contesta portanto convém descredibilizar, claro está....
Os the Cynicals são os the Cynicals. Apareçam em concertos nossos para perceberem o que quero dizer. Agora o que é grande elogio e frustração é virem-me dizer “Eh pá outro dia vi um concerto vosso, que cena fixe.. Que merda que vocês são portugueses e não britânicos. Se fossem ingleses poderiam muito bem ombrear com Bloc Party ou Kaiser Chiefs...” Pois, obrigado... eu acho...

C.- Aos poucos os The Cynicals têm vindo a “arrastar” alguma gente atrás de si. Consideram-se uma banda de culto?

J.M.- Acho que não penso muito nisso, para não dizer que isso me passa totalmente ao lado.

C.- Pensam vir a fazer da música profissão com os The Cynicals ou este é apenas um projecto irreverente para marcar posição?

J.M.- Não sei, por agora é algo que me dá gozo fazer, a ver vamos. Também tenho outros projectos, tenho um mestrado para fazer, depois também gosto de mais coisas... não sei mesmo...

C.- Que conselhos dariam a um jovem musico em início de carreira.

J.M.- Estudem música, vejam exposições, encham a cabeça de tudo o que vos possa inspirar ainda que não seja necessariamente música. Mandem cagar as modas musicais, não sejam carneiros, procurem-se, descubram-se, sejam vocês.

C.- Para finalizar a entrevista querem deixar alguma mensagem para os fãs?

J.M.- Quais fãs? Aos curiosos digo para nos visitarem em www.myspace.com/somuchadoaboutnothing
Apareçam também quando tocarmos e levem as vossas irmãs...

C.- Muito obrigado pela entrevista e boa sorte para a vossa carreira.

J.M.- Obrigado eu, um abraço até já!


Os The Cynicals são:

João Macias- Voz
Du’Arte- Teclas, Coros
Ricardo Cardoso- Bateria
José Rebola- Guitarra, Coros
João Baptista- Baixo
Cami- Guitarra, Coros

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