segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O Optimista

E assim perdi a virgindade com Sua Majestade Infernal


Esta será a primeira de (espero eu) muitas crónicas, críticas, devaneios, (etc.) que este vosso Optimista irá publicar neste inovador projecto de nome Combo, e por isso, antes de mais, gostaria de, desde já, estabelecer as regras deste espaço, os seus objectivos e, principalmente, o que é esta pequena rubrica. “Ora bem, e como vou eu descalçar esta bota?” foi a pergunta que me coloquei ao reler a frase anterior, mas a resposta não tardou a surgir na minha cabeça, regras: não as há!; objectivos: exorcizar os meus fantasmas musicais!; o que é esta pequena rubrica: é, acima de tudo, uma rubrica de opinião, por isso, e antes de começarem a inundar o meu e-mail com ameaças de morte, lembrem-se que o que eu digo (escrevo neste caso) não é Lei… embora nestes assuntos ande lá perto!
Vamos então à crónica propriamente dita!
Esta primeira crónica é inteiramente dedicada a uma banda pouco consensual no meio musical, uma banda que ou se ama ou se odeia, uma banda chamada H(is) I(nfernal) M(ajesty).
Corria o ano de 1991 quando Ville Hermanni Valo, Mikko "Linde" Lindström e Mikko "Migé" Paananen fundam uma banda de covers de nome His Infernal Majesty, mas cedo optaram pelos originais. No ano seguinte sai a primeira gravação da banda, uma demo-tape com o título de Witches and Other Night Fears mas, segundo os rumores, apenas Valo possui uma cópia. Só em 1995 a banda voltou a estúdio para gravar a sua segunda demo, de nome This is Only the Beginning, numa edição limitada a apenas 100 cópias. Um ano depois sai o primeiro EP da banda, 666 Ways to Love: Prologue, que começou a atrair atenções, quer do público e imprensa, quer de editoras e, logo em 1997, apenas um ano depois do seu primeiro EP, os, já então abreviados, H.I.M. lançam o seu primeiro álbum Greatest Lovesongs Vol. 666, que entra directamente para numero 4 do top Finlandês!
Dez anos depois do seu primeiro álbum, os H.I.M. lançam o seu sexto CD de originais, de nome Venus Doom. O que terá mudado em 10 anos na música dos H.I.M.? É isso que este vosso Optimista vai tentar descobrir!
Vamos, então, falar um pouco do Greatest Lovesongs Vol. 666 (GLV666), um álbum que foi uma verdadeira pedrada no charco do chamado Gothic Metal da segunda metade dos anos 90. Composto por 66 faixas (embora 56 destas se encontrem despidas de música) e com 66:06 minutos de duração (começando a música número 66 ao 06:00 minuto), este, à primeira vista, poderia passar por um álbum de Black Metal, mas não podíamos estar mais longe da verdade, na realidade o GLV666 é um álbum bastante melódico e melancólico, aliando o peso dos riffs de guitarra às límpidas melodias vocais. Este é um álbum que parece balançar sempre entre o Doom Metal de uns Black Sabbath e Type O Negative (se bem que estes últimos juntam várias influencias na sua música, como Gothic Metal/Rock, HardCore, etc.) e o Pop Rock de uns U2 ou Bon Jovi. Sendo um álbum de estreia, poderia pensar-se que a inclusão de duas covers no alinhamento do CD demonstra alguma insegurança por parte da banda no seu material original, novamente estariam enganados, as duas covers (a já mítica “Wicked Game” de Chris Issak e “Don’t Fear the Reaper” de Blue Oyster Cult) mostram, isso sim, uma grande maturidade da banda, que não se limitou a simplesmente tocá-las, num lance que seria seguro, uma vez que as duas músicas já têm os seus fãs, mas sim revestiu-as de um charme muito característico dos H.I.M., inovando e acrescentado, mexendo e remexendo no que acharam necessário.
As outras músicas do álbum, compostas quase na sua integridade por Valo, são, por seu turno, o que de melhor se fez nesse ano no seu género, músicas como “Your Sweet Six Six Six”, “Heartless”, ou “It's All Tears (Drown In This Love)” ficaram para a história do Gothic Metal ou Love Metal, como os H.I.M. gostam de apelidar a sua musica, afirmando-se os pioneiros do género.
Dez anos e cinco álbuns depois, Venus Doom!
Tenho que confessar que depois da desilusão que apanhei com o Dark Light (sem dúvida alguma o pior álbum da carreira dos H.I.M., ainda não sei como é que chegou a disco de ouro nos States… quer dizer, por acaso até sei, mas isso é assunto para outro dia…) estava apreensivo quando desembrulhei a encomenda e coloquei o CD na aparelhagem… à primeira audição o espanto! Os H.I.M. dos bons álbuns, os H.I.M. que primavam pela originalidade aliada à competência, os H.I.M. que me tinham maravilhado com Greatest Lovesongs Vol. 666 e com Razorblade Romance(RR) tinham voltado! È a mais pura verdade, desde o RR que os H.I.M. tinham entrado por uma espécie de marasmo criativo, o que não quer dizer que álbuns como Deep Shadows &Brilliant Highlights ou Love Metal sejam maus, apenas tinham perdido um pouco a chama que caracteriza os H.I.M. e que Venus Doom recuperou.
Composto por nove faixas, todas assinadas na sua integridade por Valo, este apresenta-se como um dos álbuns, a par do GLV666, mais pesados da carreira da banda. Músicas como a que dá o nome ao álbum, “Venus Doom”, ou como “Passion’s Killing Floor” levam mais longe a experiência que a banda iniciou em GLV666, fundindo na perfeição Doom Metal e Pop Rock. E depois temos faixas como “Sleepwalking Past Hope” ou “Cyanide Sun” que se tornam clássicos instantâneos da banda logo à primeira audição. Mas desengane-se quem pensa que este é um álbum fácil de digerir, muito pelo o contrario, este é talvez o álbum de audição mais difícil alguma vez composto por H.I.M., cheio de pormenores “escondidos” e de melodias que ora nos beijam os sentidos ora nos pontapeiam o corpo.
Resumindo, Venus Doom é um majestoso álbum, ora não fosse o filho de Sua Majestade Infernal, que aconselho vivamente a toda a gente e que, para melhor tirarem proveito do trabalho que esta banda transformou em música, deve ser ouvido várias vezes, como antes do aparecimento da Internet e, consequentemente, das centenas de álbuns sacados num dia, se costumava fazer com os CDs que tão custosamente comprávamos!
E assim perdi a virgindade (no que a crónicas diz respeito) com Sua Majestade Infernal! Um grande bem-haja e até a próxima!



“E tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos possíveis…”

O Optimista
Os H.I.M. são:

Ville Valo – Voz (1991-até ao presente)

Mikko Lindström- Guitarra (1991-até ao presente)

Migé Amour- Baixo (1991-até ao presente)

Janne "Burton" Puurtinen- Teclas (2001-até ao presente)

Mika "Gas" Karppinen- Bateria (1999-até ao presente)


Antigos membros:

Juippi - Bateria (1991-1992)
Tarvonen - Bateria (1991-1992)
Oki - Guitarra (1992-1996)
Antto Melasniemi - Teclas (1995-1998)
Sergei Ovalov -Teclas (1999 apenas em digressão)
Juhana Tuomas "Pätkä" Rantala -Bateria (1995-1999)
Jussi-Mikko "Juska" Salminen - Teclas (1998-2000)

Discografia:
Witches and Other Night Fears- 1992 (demo)
This is Only the Beginning- 1995 (demo)
666 Ways to Love: Prologue- 1996 (EP)
Greatest Love Songs Vol. 666- 1997 (CD)
Razorblade Romance- 1999 (CD)
Deep Shadows & Brilliant Highlights -2001 (CD)
The Single Collection- 2002 (Box)
Love Metal- 2003 (CD)
And Love Said No: The Greatest Hits 1997-2004- 2004 (Best Of)
Dark Light- 2005 (CD)
Uneasy Listening Vol. 1- 2006 (CD de lados B)
Uneasy Listening Vol. 2- 2006 (CD de lados B)
Venus Doom- 2007 (CD)

3 comentários:

Anónimo,  1 de novembro de 2007 às 08:33  

Bom trabalho. Estou em total sintonia com a tua review.

Anónimo,  2 de novembro de 2007 às 07:39  

Caro optimista
Uma maravilhosa e extensiva biografia, que me deixou com uma lágrima no canto do olho. Um desperdício, do texto, que substituiria com brilhantismo qualquer pseudo-biografia musical das revistas de hoje (assim de repente vem-me à memória a desgraça que a "Ana Mais Atrevida" fez com a biografia de Nel Monteiro); e da lágrima em si, que ando a poupar para o dia em que os HIM tiverem um desastre de avião... ou uma overdose colectiva... ou qualquer coisinha que os cale.
Um grande bem haja deste que acabou de se tornar leitor atento e fiel do "Combo"
Zé Pregos

Anónimo,  10 de novembro de 2007 às 08:21  

Primeiro de tudo, quero dar os parabéns à equipa do Combo que estão a fazer um óptimo trabalho!

Em segundo, dou os parabéns para "O Optimista", pela fantástica crónica acerca dos HIM, com factos verídicos e sem ter que recorrer a palavras "caras" e metáforas estranhas e sem sentido, que muitas pessoas utilizam para parecerem intelectuais e para mostrar que sabem do que falam...

Continuem o bom trabalho!
Maísa

  ©Template by Dicas Blogger.